De certa forma, o clericalismo segregou o conceito simples de homem que Deus usa e o atribuiu a uma classe minoritária de privilegiados. Em contrapartida, o liberalismo o banalizou e o franqueou inclusive a neófitos e a profanos que evocam essa atribuição. As ondas do secularismo têm empurrado o cristianismo para longe da fé bíblica e cristocêntrica e o tornado em uma religião com viés contemporâneo, desassociada de seus valores e propósito primitivos.
Para os que amam as Escrituras e desejam servir no ministério, o risco é ser seduzido pelo academicismo, enquanto para os mais inclinados aos serviços práticos e “proféticos” a sedução é o misticismo exacerbado e o analfabetismo teológico.
No entanto, assim como Elias e Eliseu não foram produzidos pela escola de profetas, notáveis homens que Deus tem usado vieram do “anonimato” e não tiveram educação teológica formal, tais como A. W. Tozer e T. Austin-Sparks, considerados profetas de maior projeção no século 20.
Os seminários têm seu lugar, mas nossos labores serão como palha ao fogo se não formos alistados na escola de Cristo, “(...) onde Cristo é a grande lição e o Espírito Santo o grande Mestre; (…) onde o ensino não é sobre coisas, mas uma obra interior na qual Cristo faz parte da nossa experiência – esta é a natureza desta Escola” (T. Austin-Sparks).
Preocupados com a nova geração dos que desejam servir ao Senhor e em encorajar os que já lançaram mão do arado, esta obra – em sua segunda edição, revista e ampliada – visa descortinar os bastidores do treinamento daqueles que tiveram ministérios ungidos e frutíferos. Longe de serem métodos, trata-se de princípios e conselhos adquiridos por anciãos que trilharam o caminho salpicado de sangue em sua inegociável missão de conhecer e seguir o Crucificado.
O Homem que Deus Usa é uma coletânea de mensagens selecionadas que formam uma impressionante unidade, revelando o caminho estreito a ser percorrido por aqueles que desejam conhecer ao Senhor em profundidade e serem usados por Ele, bem como os perigos e dificuldades que serão encontrados. Essas mensagens, tais como as pedras preciosas, são resultado de extremo calor e pressão a que seus autores foram submetidos, tornando-se, assim, verdadeiros tesouros espirituais.
Para Stephen Kaung, esse caminho começa com Vida de Entrega Total e, como resultado, Spurgeon nos adverte que Satanás Considera o Servo que Deus Usa. Watchman Nee mostra-nos os benefícios do Poder da Pressão. Por que Deus permite isso? Segundo C. A. Coates, para fazer-nos Servos de verdade, migrando da superficialidade espiritual para vivermos para Sua satisfação, como homens que se alegrem em ser nada.
Nesse ponto, T. Austin-Sparks fortemente nos adverte: Não se Escandalize com o Senhor pela disciplina misteriosa com que Ele, certamente, trata Seus discípulos, por Sua aparente indiferença em meio a dor e sofrimento. Antes, veja como privilégio participar da Comunhão dos Seus Sofrimentos. A tentação será desistir e tornar-nos inúteis para Deus. No entanto, sob a pena poética, tal como preciso bisturi, de Herb L. Roush compreenderemos um pouco do que é viver sob a bigorna da providência divina do Homem que Deus Usa.
Um Autor Desconhecido nos encorajará amorosamente a trilhar um nível mais alto do Chamamento Celestial, sob a tutoria do Espírito Santo – para sermos semelhantes ao Crucificado. Então, encontraremos com o profeta A. W. Tozer, rugindo como leão, que não nos deixará sossegar, pois nos adverte fortemente quanto à lastimável situação da Igreja e nos convoca a unir-nos com seu clamor: “Precisamos de Homens de Deus Novamente!. (…) Precisamos de um reavivamento”.
Por fim, um pregador cego, George Matheson, nos ensinará a render-nos por completo ao Amado, a ponto de nossa oração se transformar em adoração, com o cântico clássico: “Torna-me um cativo, Senhor!”.
Ingressemos, por Sua graça e misericórdia, na escola do Crucificado. Afinal, “... só temos uma vida para viver, e nada poderia ser mais trágico do que chegar ao fim dela sabendo que o caminho que tomamos foi o errado” (Watchman Nee).
Gerson Lima (editor da Clássicos)
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